Hoje, enquanto estava sentada à porta de casa da minha avó e pensava nos acontecimentos que têm cruzado o meu caminho ultimamente, passou por mim um homem. Um homem que eu já conhecia de vista- sempre sentado na esplanada com a sua cervejinha e o jornal à frente, já com os seus 50 e muitos anos em cima, ar de ucraniano e olhar vidrado sem alma, sempre sozinho, não pensei nem que falasse português. Porém falava. Enquanto a minha cabeça se debatia com o verdadeiro motivo da minha indisposição, reflectida na minha cara (pelos vistos), os pés destes homem passaram por mim e, a um metro de altura, ouvi alguém dizer " 'tás triste porque o amor não assiste". Não passava mais ninguém na rua, só podia ser ele... ele abrandou o passo e disse "né?" (não notei qualquer tipo de sotaque nem cheiro a álcool, embora a sua aparência e o seu andar relatassem um leve estado de embriaguês que a muita gente da cidade já parecia habitual), apenas acenei com a cabeça inconscientemente, pensando para mim própria "só me faltava mais esta!".
Imediatamente olhei para o meu reflexo no vidro da porta do prédio: será que eu tinha mesmo cara de mal amada? Não notei nada...mas a minha reacção fez-me perceber que talvez fosse isso, pelo menos na sua grande parte, e que talvez a minha cabeça não fosse assim tão grande para caberem mais do que pessoas e sentimentos.
Senhor, não o conheço, mas desde já um pequeno obrigada, a sua frase não me sairá da cabeça assim tão facilmente.