sexta-feira, 25 de junho de 2010

(A menina que queria ser fada e nasceu sem asas)

Desengraveceu

Tranca os olhos e vive no escuro
Fecha as portas da sua mente,
Vive a tristeza que salta o seu muro
E olha em volta para toda a gente.

Lá vem ela
De copo na mão
Diz que a vida é bela
E que é parte da imperfeição.
Bebe um gole e sente o efeito,
Passado um bocado já vê o mundo perfeito.

Embrenha-se em si
Agarrada a metade,
Já vê a fada verde.
Encosta-se à parede
E só cospe verdade.

Cai trémula,
Agarrada ao maço,
A amiga está fula
Mas dá-lhe um abraço.

Ela está bem,
Só precisa de uma mão,
Foi a fervura do absinto
Que lhe deixou pesado o coração.

Chegou uma fada e disse

Diz-me quantas vezes dormiste de janela aberta. Diz-me quantas horas passaste a olhar para o tecto. Diz-me quantas noites passaste a falar comigo. Diz-me quantas noites não dormiste simplesmente a pensar que o fazias. Diz-me quantas vezes pensaste em mim. Diz-me quantas palavras já me atiraste aos ouvidos envoltas de riso. Diz-me quantos sorrisos já disparamos perante os nossos olhos. Agora soma tudo, multiplica pelo número de vezes que o teu coração bate por dia e imagina o que poderia dizer-te agora.
Diz-me que não foges, que não sumes sem rasto visível. Diz-me que o mundo não é assim tão grande como dizem, tão grande para ridicularizar os nossos seres e o pedacinho de alma que os une. Diz-me que te vou ver sempre como no hábito que o nosso dia-a-dia veste. Diz-me que também não consegues viver à base de fotografias e frases feitas. Diz-me tudo. Conta-me as estrelas, o que elas te disseram, o que te fizeram, lembra-te do que disse, do que sou e do que és. Diz-me tudo- o que quero e o que não quero. Diz-me o que ainda espero ouvir. Diz-me o que noutra vida ainda vou continuar à espera de ouvir. Chuta-me palavras de um beijo húmido que me troca as órbitas. Cospe indiferença que eu grito. Espera que eu também esperei. Diz-me, diz-me...que um dia eu também te digo como me consegues pôr. Um dia digo-te que és a única pessoa que me põe a chorar em menos de 10 segundos e a rir em menos de um. Um dia digo-te porque é que te chateio e explico-te porque te consigo deixar chatiado mesmo com a tua paciência inquebrável.
Brinquemos. Diz-me outra vez que é impossível não se gostar de mim. Repete as tuas frases marcantes que me embalam à noite. Repete as trajectórias da tua luta de língua até que ela caia e até que os olhos saltem. Manda-me as tuas flechas de plástico, fada-me, inspira-me, mas diz-me que o mundo não acaba hoje e que estás aqui amigo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Gosto de ti.
Gosto dos teus longos beijos de boca cheia que me tiram o pouco ar que me resta quando estou à tua beira. Gosto dos pequenos e grandes abraços que me dás. Gosto que me faças rir até chorar mas não gosto que me faças chorar até conseguir voltar a rir. Gosto que me puxes e apertes o meu corpo contra o teu para que volte a senti-lo sem me fartar. Gosto de cheirar o teu pescoço e gostava de me lembrar melhor das vezes em que o fiz. Gosto que me roubes o ar com abuso até eu cair redonda no chão mas não gosto que me deixes morrer e sei que não o queres mesmo que o negues em tom de brincadeira.
Fazes-me querer rasgar o céu com um sorriso, apagar a Lua e apanhar estrelas à palmada lendo o que lá escreveste.
Não seques, mantem-me por perto, lembra-te que só irei se me deixares ir.
"Um dia apago todas as luzes do mundo para o meu coração te iluminar o caminho."

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Queria acordar a voar sem bater com a cabeça no tecto como de costume.
Acordar leve num quarto todo branco e solarengo, bem no meio da cordilheira de lençóis da grande cama, só com a nossa pele vestida e o nosso pequeno-almoço na cama: tenros lábios, suculentos beijos, tostas com compota de amor e um copo de mimos logo pela manhã. Com o sol a torrar-me a cara e o vento a cantar para as árvores lá fora.
Queria adormecer tua e acordar ao teu lado a saber que és meu não só em sonhos de lua cheia.
Quero dormir com o teu ouvido no meu peito a ouvi-lo palpitar para ti até quando durmo, ou simplesmente ficar acordada só para te ver dormir e lutar noite dentro contra o impulso de te acordar com beijos.
Não quero uma argola de metal no dedo nem o teu nome num papel, só o teu cheiro, o teu toque ou o teu silêncio que me põe o coração a cantar bem alto de felicidade.
Quero acordar inteira e não a metade que sou quando estás longe ou a metade que fui antes de te conhecer. Quero-te menos do que já quis e mais do que o tempo deixa.

Sexo?

Chega de treta
E de coisas sem nexo,
A vida não és tu
E não passa de sexo.

Chegou a cura:
Um elfo esfomeado,
Eu de lingerie escura
E ele de boxer molhado.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Embrenha-se nos sonhos
Mergulhada na soturnidade
De uma impiedosa realidade
E pela claridade cismo.
E chora, chora, chora,
Bela desgraça evoca,
Causadora de bulício
Lembrar tamanho sacrifício
E a semelhante hora.

Ninguém é de ferro
E a um passo do abismo
Cada um segue seu erro.

De pensamentos lavados
E corações acelerados,
Não chegam passos lentos
Para trespassar tais tormentos.

E já de braços caídos,
Entre soluços e gemidos,
Espera errante
Pelo elfo dourado e o cavaleiro andante.